sábado, 16 de janeiro de 2010

Ensaio sobre corpo e realidade, sobre mente e atualidade

De início para organizar minhas idéias acho melhor listar algumas palavras-chave que pretendo abordar para não correr o risco de me esquecer de alguma delas. Tais palavras seriam: realidade, percepção, cognição, sentidos, comunicação, física, metafísica, realidade aumentada, mente, corpo. Tais palavras se encontram na ordem que me lembrei delas simplesmente.


Mente e realidade


Agora para começar mesmo esta exposição pretendo explicar uma linha de raciocínio que tinha como a melhor compreensão a que eu poderia chegar a cerca de alguns assuntos destes, isso até pouco tempo atrás.

Eis o ponto. Nós como animais, mamíferos, humanos, dependemos de nossos órgãos dos sentidos para compreender e operar de alguma forma no mundo físico, naquilo que chamamos de realidade. Pois bem, de acordo com diversas observações que vem desde muito tempo, observações essas confirmadas por pesquisas e instrumentos inventados por humanos pudemos descobrir os limites de nossa percepção e em última análise de nossos sentidos.

A partir destas informações pensei o seguinte, nós como qualquer outro animal não podemos perceber o mundo físico em sua totalidade, a realidade, há cores do espectro de luz que não podemos ver, ondas de áudio que não conseguimos ouvir, dentre outras variações relacionadas a nossos outros sentidos, estas são somente as mais óbvias, afinal a visão e a audição são os sentidos nos quais mais nos apoiamos. O que demonstra as limitações de nossa percepção, e que fica mais claro se considerarmos que os esquimós, por exemplo, são capazes de discernir entre 53 tonalidades da cor branca, enquanto a população de outro local provavelmente só seja capaz de discernir entre duas ou três. Os sistemas visuais de ambas as populações são idênticos em sua capacidade e funcionalidade, porém tal diferença existe.

Seguindo este raciocínio concluí que um humano não é capaz de perceber a realidade (a menos que para meu leitor a realidade seja aquilo que ele possa perceber e conseqüentemente interagir, já que tal afirmação nos levaria para outra direção.), definindo realidade como os objetos da forma como se dão em sua totalidade. Ou seja, não podemos interagir com os objetos em sua totalidade, mas somente com as informações intermediadas por nossos sentidos.

Trabalhamos nossas decisões e ações em nossa mente a partir das limitadas informações fornecidas por nossos sentidos, o que se pode dizer que é bem longe da realidade.

Agora pensando sobre outros humanos, os quais como com qualquer outro objeto, ou criatura não podemos nos relacionar na totalidade, mas somente com as informações que temos deles advindas de nossa percepção. Como poderíamos nos comunicar de forma integral? Como ter certeza que aquilo que percebo através de meus sentidos é o mesmo que outra pessoa percebe através dos dela? E ainda mais como saber que as informações que envio através de meus sentidos serão percebidas da forma como pretendo se elas tem de passar pelos sentidos de outro humano e serem então interpretadas por sua mente?

A partir disso pensei que nossas idéias, nossas intenções, tudo o que os humanos já construíram, até e principalmente nossa linguagem, são uma ilusão de compreensão, de acordo; tudo o que a humanidade já construiu, desde a matemática, até as ciências naturais como a física e a biologia e até a economia mundial, tudo isso não passa de ilusões inventadas por nós, não se enquadrando no que elas mesmas definem como realidade! O que nos impossibilita de afirmar que a física possa pesquisar a realidade. Esta da forma como a mesma a define seria por fim metafísica, ou seja, estaria além da própria física!

É assim que eu pensava até algum tempo atrás, porém minhas idéias mudaram um pouco após algumas reflexões e novas experiências. Aproveito esta pausa na exposição para explicar que todas as afirmações acima são basicamente minha percepção e idéias sobre tais questões e conceitos, e em momento algum implicam qualquer outra pessoa, a menos que a mesma o escolha.


Um desvio programado


Antes de finalmente chegar ao ponto e a minhas novas idéias pretendo explicar algo sobre realidade aumentada, ou o pouco que pude compreender de tal conceito. Basicamente a idéia de uma realidade aumentada consiste em ampliar nossos sentidos a partir da tecnologia atual para que possamos acessar mais informações do que comumente conseguiríamos. Imagino que tal conceito derive de alguma forma do conceito de ciborgue, que é bem antigo e se refere a humanos que se utilizam exatamente ferramentas para ampliar, suprir deficiências entre outras coisas. As diferenças entre os dois seriam que a idéia de realidade aumentada prevê a utilização na vida cotidiana de informações digitais, enquanto o conceito de ciborgue já se vê aplicado simplesmente na utilização de óculos.

Ambas as idéias antevêem uma maior integração de tais ampliações perceptivas no corpo humano e na vida cotidiana. Se hoje no Japão somente com seu celular se é capaz de pagar o metrô, ver os mapas das linhas ferroviárias, fazer compras, verificar os códigos de informações, a intenção com a realidade aumentada é ampliar isso a níveis somente vistos em histórias de ficção científica.

Pois bem, as idéias sobre a realidade aumentada não haviam surtido grande efeito em mim até que tive a experiência de assistir ao filme Avatar, do diretor James Cameron. O ponto principal no filme para mim fora a idéia de que alguns personagens eram capazes de enviar suas mentes para corpos criados especificamente a partir de seu DNA e do DNA de outra raça com características humanóides, isto é, semelhantes às de humanos, um verdadeiro avatar, como os de jogos eletrônicos. Bom, tal ficção me remeteu a realidade aumentada no sentido de que a ferramenta de interação definitiva poderia ser um corpo totalmente novo, com capacidades maiores do que o nosso próprio.

A partir daí comecei a questionar minhas concepções anteriores. Afinal, se posso estender a partir de ferramentas minha percepção, cada vez mais nos aproximamos da relação direta com os objetos da realidade. Fui levado a seguinte frase, que apresento como afirmação e indagação para incitar o pensamento de meu(s)/minha(s) leitor(es)/leitora(s): Sou tudo até onde posso estender minha vontade.(?)

Afinal, se a partir de um computador, sou capaz de ver e ouvir eventos em lugares bem distantes de meu corpo e até operando algum tipo de robô, interferir neste local aparentemente tão distante, fazendo valer minha vontade, estendendo-a até lá; pergunto-me então, o que sou eu, minha mente, minha vontade?

A partir de tais pensamentos e pensando na realidade aumentada poderia eu me considerar como sendo minha mente e as formas que tenho de influir no mundo, quer sejam naturais, ou implantadas, equipadas. Ou pode-se dizer que os seios de silicone de uma mulher não são dela? Posso dizer então que meus possíveis “novos olhos”, ou óculos que além de corrigir qualquer deficiência, ampliam minha capacidade visual, me informando ainda peso, constituição, estado, ou quaisquer outras informações sobre o que quer que eu esteja olhando; tais olhos miraculosos são meus afinal, uma parte de mim, como o é meu computador!


Chegamos aos finalmentes


Bom, antes de mais nada devo dizer que atualmente as afirmações anteriores não são minha verdade, o que, aliás, pretendo trabalhar em outro ensaio em algum momento (a verdade).

A partir da pergunta/afirmação que me fiz e mencionei acima cheguei a uma conclusão de certa forma diversa de tudo o que expliquei anteriormente. Ao tentar responde-la me lembrei de uma variável, de um fator que eu estava esquecendo-me de dar a devida consideração até tal momento. O corpo, sim, pois ele indubitavelmente está aqui, quer seja considerado como uma parte de nós, ou simplesmente como um invólucro que utilizamos para viver neste mundo, aparentemente a definição utilizada pela igreja católica.

Bem, retomo minha questão: “O que sou eu? Sou minha mente? Minha alma imortal? Sou tudo até onde posso estender minha vontade?” Pessoalmente a respondi pensando sobre a mente e o corpo, bem, a ciência não conseguiu até o presente momento definir uma localização para a mente dentro do corpo, o local mais provável, seria o cérebro.

Pois bem, penso que nossa mente se encontra em todo nosso corpo, em cada célula dele. Que cada intenção e sentimento ressoa em cada uma delas, nós é que não nos ligamos tanto a nós mesmos, isto é, para mim nosso corpo é mal aproveitado, não em termos quantitativos, mas qualitativos, creio que podemos nos tornar mais conscientes de nossos próprios corpos e conseqüentemente de nossos sentidos, melhorando nossa relação com o ambiente, com o mundo e uns com os outros.

Ao escrever tudo isso, vejo que tais afirmações põem em cheque todas as anteriores, afinal se eu sou meu corpo, meus sentidos; então estou em contato direto com a realidade, da forma como sou capaz de fazê-lo, da forma como sou capaz de compreendê-la, se prestar mais atenção a todos os meus sentidos minha percepção da realidade pode se ampliar.

Sobre computadores e outras ferramentas nossas como ciborgues que somos. Sim, elas nos permitem estender nossa vontade como nossos braços, porém a pontos onde estes jamais poderiam alcançar, mas a relação com sua própria mão, a forma como a sentimos e ao que ela toca, será sempre diferente do que um braço mecânico é capaz.

Bom, pode ser que novamente não tenha sido suficientemente claro, mas ainda creio numa impossibilidade de comunicar completamente meus pensamentos, só espero que meus sentimentos e intuições sobre tal assunto possam ser transmitidos, já que acredito que eles mais do que tudo são o que nos permitem compreendermo-nos como iguais e nos relacionarmos. Como procuro estar sempre aberto a críticas, que venham elas!

sábado, 2 de janeiro de 2010

Ensaio sobre a vontade de milênios

Sou humano atravessado e implicado em coisas humanas, não tenho como perceber as coisas de um ponto de vista que não seja humano, que não seja interferido pelo que outros humanos já fizeram, contanto que de alguma forma eu tenha entrado em contato com isso.


A forma como compreendo as coisas, um mundo aonde não há necessidade de se fazer nada. Aonde as imposições sociais só servem a uma necessidade de perpetuar o modelo presente. Perceber a vida humana como algo que não tem necessidade de existir, bem como qualquer outra coisa. Perceber as ciências, a matemática, a linguagem, as religiões como meras arbitrariedades humanas.


Percebo a matemática, a economia e as religiões, como as maiores arbitrariedades dentre todas, pois não possuem qualquer base do que poderia ser chamado de lógica, ainda que a própria lógica não possua uma base externa a qual não se possa questionar. As bases de todas essas coisas seriam a determinação humana de que tal coisa seja de uma forma e não de outra.


Pensando Deus de uma forma lógica, ao mesmo não se aplicam nossas considerações lógicas, o que nos impossibilita em absoluto de compreendê-lo racionalmente; talvez possamos senti-lo, intuí-lo, mas jamais haveria palavras para expressá-lo, ou para expressar suas intenções e desejos, supondo que ele os tenha, ele talvez nem tenha uma forma que possamos compreender!


Colocando Deus de lado, por pura incapacidade de pensar sobre ele o ponto aonde quero chegar é que todas essas compreensões minhas são influenciadas por idéias de diversas pessoas que já viveram e que vivem, algumas são científicas, outras não. O caso é, exatamente por conhecer coisas que já foram não posso pensar em como era para tais pessoas que não conheciam o que conheço, posso supor, mas é improvável que eu consiga ignorar tudo o que conheço para me colocar no lugar dessa pessoa.


Afinal como já dissera um filósofo de que não me recordo o nome: “não se pode pisar duas vezes no mesmo rio”. Tais idéias, bem como outras levaram a transitoriedade da experiência, uma concepção da Física que se pode emprestar para qualquer outra área. Bem como a relatividade a partir da perspectiva de um dado observador e sua incapacidade de se manter neutro ao próprio fenômeno.


A existência da vida é um fenômeno trivial, porém qualquer forma que ela venha a tomar é improvável até acontecer.


Com todas essas considerações eu poderia ser chamado de herege, sacrílego, louco, pessimista, depressivo. Enfim, em todas as formas, alguém que não dá valor a vida. Mas não é assim que me percebo neste momento, de forma alguma.


Agora desejo falar da vida. A partir da ausência de necessidade para com a própria existência, pode-se fazer dela o que se quiser. Com isso afirmo a vontade acima da angústia de viver sem qualquer base, sem qualquer apoio.


Para mim cada existência em particular é um milagre, cada criatura e em especial pra mim cada pessoa por causa de suas decisões, de suas capacidade de suas ações, por isso digo que tudo o que é humano me interessa, me fascina.


Agora para a minha própria vida, se não percebo como necessário fazer qualquer coisa, sequer viver, “o que me resta então?”, é uma pergunta que se pode fazer. A minha resposta é, “aquilo que eu quiser!” Minha vontade é o que me guia e considerando a improbabilidade de qualquer forma de vida, não se pode dizer que algo é possível, ou impossível até que tenha acontecido. Só quero falar da realização. Da potência no único momento em que ela existe. O que quero dizer é que pretendo realizar potenciais meus, meu único projeto de vida sou eu mesmo, pretendo me formar, me lapidar, desenvolver meu corpo, minha mente, aprender, sentir, viver!


Claro que pretendo escolhê-los, a partir de objetivos. Para tanto me miro em uma pessoa que percebo como o homem mais extraordinário: Alexandre da Macedônia, o homem que possuía todo o mundo que conhecia. Não quero o mundo, só quero realizar duas coisas. Primeiro aquilo que o próprio dissera sobre para quem deixaria seu império: “Para o mais capaz!” Quero ser capaz, o mais capaz.


O segundo ponto é mostrar isso ao mundo. Quero como Alexandre ser grande e quero que o mundo se lembre disso. Quero que o mundo me conheça, se lembre de mim, não por qualquer feito meu, mas simplesmente por mim mesmo!


Posso não ter sido claro, certamente serei mal compreendido por alguém, porém independente de qualquer incongruência no que escrevi, de qualquer discordância que possa haver, o que permanece para mim é a força de determinar-me por minha vontade e este é o caminho que escolhi.